De modo a explorarmos e entendermos o tema, é importante definir alguns conceitos. Biodiversidade é o total de vida encontrado num certo local da Terra, contabilizando espécies animais (fauna) e vegetais (flora). Já um ecossistema é um conjunto de organismos vivos que, em sintonia e de forma estável, interagem entre si e com o meio onde habitam. Algumas espécies dentro do ecossistema são chamadas "Keystone species" ou espécies-chave, dado que o seu desaparecimento tem um impacto desmedido , podendo trazer consequências críticas ao ecossistema.
A atividade humana veio acelerar aqueles que já são processos naturais e cíclicos do nosso planeta. São inúmeras as causas de perda de biodiversidade, com um efeito cumulativo entre si. Destacam-se, claro, a desflorestação, a exploração intensiva de recursos naturais, a caça furtiva, a poluição e a introdução de espécies exóticas - sendo esta a segunda maior causa. A IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) está a criar uma ferramenta para avaliar o estado de conservação dos ecossistemas: a Red List of Ecossystems, de modo a saber quais são os ecossistemas em risco de colapso.
O colapso de um ecossistema caracteriza-se pela redução drástica e possivelmente permanente da capacidade de carga (capacidade do meio ambiente de uma espécie se sustentar indefinidamente considerando todas as suas necessidades - alimento, refugio, reprodução, etc.) de todas as espécies, resultando, em última instância, numa extinção em massa. Este artigo incidirá em 10 ecossistemas entre os criticamente ameaçados e os em vias de colapso.
MAR DE ARAL
O Mar de Aral é o único ecossistema descrito, até ao momento, como "Em vias de colapso". Apesar de pouco conhecido, este "mar" é um lago salgado que compõe a Bacia Endorreica da Ásia Central. Nele afluem outros cursos de agua como o Mar Cáspio e o Mar Morto. Este sofreu uma desertificação de 90% em apenas 40 anos e a culpa é das imensas plantações de algodão nas suas margens e os seus pesticidas. Davam emprego a 40 mil pessoas e o fornecia 1/6 do peixe da união soviética. Hoje, as 1500 ilhas são inexistentes e as 178 espécies são agora 38. Esta situação é considerada irreversível pelos especialistas. As fotografias correspondem aos anos de 1989 (cima) e 2008 (baixo).
FLORESTAS DE ACÁCIAS NA BACIA DO RIO SENEGAL
Estendendo-se entre o Senegal, Mali e a Mauritânia, o Rio Senegal possui mingadas áreas férteis que costumavam ser florestas de Acacia nilotica. Apesar de algumas acácias serem invasoras em Portugal, nesta área, milhares de indígenas dependem das mesmas, tendo vindo a ser obrigados a realocarem-se. A maior causa deste fenómeno é a utilização excessiva de água, as atividades agrícolas desmedidas e, por fim, o sobre pastoreio. Assim como os indígenas, inúmeras espécies que ajudavam no equilíbrio deste ecossistemas têm vindo a desaparecer, intensificando o problema.
TURFEIRAS DA RENÂNIA
A turfa é o material vegetal que dá origem ao carvão. Extremamente energético (carbono) e inflamável, esta é constituída por camadas de material orgânica parcialmente decomposta, entre o estado líquido e sólido. As turfeiras são um tipo de solo, cujo ecossistema é constituído por uma biodiversidade imensa, acumulando biomassa morta e, muitas vezes, fósseis. Estas turfeiras, Hunsrück e Eifel na região da Renânia, na Alemanha estão com um acentuado declínio de espécies - sendo que o dreno de água e a queima são o mais frequente motivo de desaparecimento. A queima destas liberta quantidades de CO2 para a atmosfera, provocando danos a todos os níveis no ambiente. MATAS DE VEGETAÇÃO "FYNBOS" DO CABO "Fynbos" ou plantas com folhas finas, correspondem a um tipo de vegetação endémica de África do Sul. Enormes áreas de arbustos, constituídas por 8500 espécies de plantas vasculares das quais 70% são fynbos, representa o chamado Reino Floral do Cabo. Como seria de esperar, com o aumento da população nesta área, houve expansão urbana, agricultura e, claro, incêndios que comprometeram a sobrevivência deste ecossistema. A invasão de espécies exóticas (que se tornam rapidamente invasoras) é, também, uma grande ameaça ao mesmo.
NASCENTES CÁRSTICAS DO SUL
As Piccaninnie Karst Lagoas Wetlands localizadas na costa sul da Austrália possuem umas formações geológicas chamadas relevos cársicos. Estes são criados pela corrosão (ou dissolução química) de rochas, sobretudo calcárias, onde aparecem grutas, rios subterrâneos, canions, lapiás, entre outras. Estes 862 hectares são habitat para inúmeras espécies, bem como se encontram sobre solos de turfa. Foram protegidas pela Convenção de Ramsar, pela necessidade de conservar locais húmidos e habitat de aves aquáticas.
MATAS DE VEGETAÇÃO "FYNBOS" DO CABO
"Fynbos" ou plantas com folhas finas, correspondem a um tipo de vegetação endémica de África do Sul. Enormes áreas de arbustos, constituídas por 8500 espécies de plantas vasculares das quais 70% são fynbos, representa o chamado Reino Floral do Cabo. Como seria de esperar, com o aumento da população nesta área, houve expansão urbana, agricultura e, claro, incêndios que comprometeram a sobrevivência deste ecossistema. A invasão de espécies exóticas (que se tornam rapidamente invasoras) é, também, uma grande ameaça ao mesmo.
LAGOA DE COORONG E ESTUÁRIO DO RIO MURRAY
A região de Wentworth, na Austrália, é onde confluem os rios Darling e Murray. Este ecossistema é, também, protegido pela Convenção de Ramsar - que o salvou do colapso. A sua maior ameaça é a drenagem de água para novos locais dedicados à agricultura e, desse modo, a sua extensão é de 10% da original. Este ecossistema foi declarado Parque Nacional dada a sua importância para a biodiversidade local.
PÂNTANOS COSTEIROS DA BACIA DE SYDNEY
A destruição deste habitat é reconhecido pelas autoridades da Austrália. Dada a proximidade à cidade com maior densidade populacional do país, as ameaças são a construção, a exploração do carvão, as espécies exóticas e as alterações climáticas. Em dois séculos, 60% dos pântanos destas zonas húmidas costeiras, impactando desmedidamente a biodiversidade e a paisagem, com foco nas planícies aluviais costeiras da meseta de Hawkesbury.
PÂNTANOS DO ESTUÁRIO MURRAY-DARLING
Localizado perto dos dois habitats anteriores, este é considerado o ecossistema com maior nível de biodiversidade das zonas húmidas. A exploração da água levou ao desbaste da vegetação do local. Seguiram-se secas do rio e consequentes aumentos da salinidade do mesmo, sendo agora impossibilitado o consumo humano. O risco de extinção ocorre em várias espécies da zona.
RECIFES DE CORAL DAS CARAÍBAS
O stress causado pelos 20 milhões de turistas anuais, cumulativamente à população local, bem como a poluição marinha por lixo, protetores solares, e outros químicos faz com que 2/3 dos recifes estejam diretamente ameaçados pela atividade humana. Os corais contribuem para a redução de CO2 atmosférico e são habitat para 65% dos peixes. A sua morte, frequentemente denominada branqueamento, está associada a desastrosas consequências neste ecossistema. O seu pior inimigo é o aquecimento global e o aumento da temperatura das águas do mar.
BOSQUES DE ALGAS SUBMARINAS DO ALASCA
As "Florestas de Kelp" são áreas imensas na costa do Alasca, nos EUA, riquíssimas em densas algas submarinas e variadíssimas espécies de peixes e animais marinhos. Alguns fenómenos como furacões, derrames de petróleo, bem como a sobrepesca e a poluição têm vindo a perturbar este ecossistema, deixando vulnerável a cadeia alimentar. A pesca de lontras do mar leva ao crescimento descontrolado de ouriços do mar, que se alimentam das algas.