Com uma população mundial que não para de crescer a agricultura teve que adaptar, exigindo maior produtividade e, por isso, maior intensidade na produção de alimentos. Com esta evolução vieram fertilizantes e outros produtos artificiais que mudam completamente a base nutricional da nossa dieta.
Apesar destes produtos permitirem uma produção em massa capaz de sustentar o planeta, eles criam o problema designado por hidden hunger (fome escondida), onde existe uma deficiência de nutrientes apesar de se consumir o valor energético necessário diário. Claro que o objetivo da agricultura é maximizar o rendimento de forma que todos tenhamos acesso a comida, mas até que ponto faz sentido usar produtos artificiais quando isto cria um círculo vicioso de comida falsa, altamente processada, e por isso, não sustentável?
Após muitas aulas sobre a sustentabilidade da cadeia alimentar (desde a produção ao consumo) e ainda mais conversas entre amigos e professores, cheguei à conclusão de que temos duas grandes faltas. Em primeiro lugar vem a falta de regulamentação, de onde surge o tema de greenwashing (termo que descreve empresas que gastam mais dinheiro em marketing para mostrar que são sustentáveis em vez de realmente o serem).
Por causa desta falta de transparência, muitas vezes chegamos ao supermercado e compramos aquele produto light, zero ou bio, a achar que estamos a fazer a escolha certa, quando na realidade a probabilidade dessa escolha ter produtos artificiais alternativos é grande. Depois vem a falta de apoio financeiro. Muitas vezes chegamos àquele supermercado orgânico e deparamo-nos com a grande diferença de preços, que nos leva a desistir da decisão. Porque é que ter uma dieta mais natural é tão caro? Se a malnutrição é um problema mundial, como é possível que ainda não haja apoio financeiro à produção natural de alimentos (mas depois existe apoio médico, quando o caldo já está entornado)?
Temos um sistema desfeito que simplesmente não nos permite acesso à dieta verdadeiramente natural que merecemos. Por isso pergunto: o problema é nosso, mas afinal de quem é a responsabilidade?
Artigo escrito por Madalena Weiner Bravo.