Como ter uma economia desenvolvida e uma maior sustentabilidade ambiental?


Com o início de 2022 vem também um mês de campanha para as eleições legislativas. Mesmo com o país mergulhado numa pandemia, os debates têm-se centrado em dois temas muito importantes, a economia e a sustentabilidade ambiental.

Infelizmente, parece que a população tem de escolher entre uma e outra, não havendo a possibilidade de termos uma economia crescente à volta da sustentabilidade ambiental. Os argumentos apresentados nos mais recentes debates têm-se focado em dois fatores. O primeiro é o facto da diminuição do consumo levar a uma maior sustentabilidade ambiental, o que é verdade, mas também leva ao decrescimento da economia. O segundo é o facto de ser necessário um grande investimento por parte do estado para atingir os objetivos sustentáveis apresentados.

No entanto, relativamente ao primeiro argumento, essa ideia acontece quando se assume que a sustentabilidade ambiental vem do lado do consumo/consumidor e não da produção/empresa produtora. Caso a produção tenha processos que permitam uma maior sustentabilidade, não só podemos produzir mais como podemos produzir melhor.

Relativamente ao segundo argumento, embora o investimento público seja muito importante para atingirmos os nossos objetivos, é preciso reforçar que o investimento e iniciativas privadas também podem ter um grande impacto, podendo mesmo atrair investimento estrangeiro para empresas portuguesas. Neste caso, o papel do estado seria beneficiar este tipo de empresas com incentivos fiscais e apoios financeiros.

Nos mais recentes estudos, feitos pela Bloomberg, Blackrock e Deloitte, provou-se que 81% das empresas com um bons índices de sustentabilidade (ESG) têm melhor performance financeira que os seus pares. Para aprofundar este tema no caso do nosso país, pego em 4 indústrias que têm o potencial de aumentar o nosso PIB e, ao mesmo tempo, promover a sustentabilidade ambiental.

 

Moda; Produção de Energia; Tecnologia e Startups; Eficiência

A primeira está na indústria da moda. Portugal tem uma posição forte na produção de têxteis e calçado a nível mundial, com especial foco no norte do país. A procura por produtos sustentáveis no mercado europeu tem vindo a aumentar exponencialmente nos últimos anos, com 66% dos consumidores a afirmarem que tomam a sustentabilidade em conta quando adquirem um produto de luxo (State of Fasion report by McKinsey, 2019).

Com os grandes produtores de têxteis no mundo, como a China, Índia e Bangladesh, sem terem capacidade de certificar a sustentabilidade e as condições laborais suficientes para as marcas europeias confiarem, cria-se uma oportunidade para o mercado português exportar produtos sustentáveis para a Europa e Estados Unidos. Este é um mercado que tem vindo a crescer nos últimos anos, especialmente no mercado alemão, que tem procurado a produção em Portugal.

A segunda oportunidade está relacionada com a produção de energia. Portugal é um dos poucos países em que a produção de energia a partir do carvão representa 0%, meta atingida em 2021. Ao mesmo tempo, a maior parte dos países europeus não só continuam com produção de energia a partir de fontes poluentes, como têm aumentado as importações de energia de países como a Rússia, criando pesadelos políticos e estratégicos, sendo a Alemanha um dos países mais afetados.

Embora este seja um mercado que Portugal não tenha mostrado grande preponderância no passado, há que reforçar que a EDP Renováveis é a terceira maior empresa de energia renovável dos EUA, ou seja, tem uma capacidade enorme de exportar serviços e adquirir redes de energia sustentável em toda a Europa. Podemos mesmo conseguir exportar energia para países europeus, se continuarmos a investir neste setor. Isto demonstra que a sustentabilidade ambiental pode promover grandes oportunidades económicas para empresas privadas portuguesas.

Em terceiro lugar, não posso deixar de falar de tecnologia e das startups que estão a crescer na área da sustentabilidade ambiental. Seja para facilitar o investimento em empresas sustentáveis (o meu caso com a LynxAI), seja para facilitar as transições digitais ou ambiental de grandes empresas, para agregar soluções mais sustentáveis para os consumidores (como a 14 Graus) ou até mesmo para aumentar a eficiência de processos e diminuir o desperdício (como a Smartex, vencedora do concurso de startups do WebSummit faz no mercado dos têxteis). Estas e muitas outras startups têm ambições de crescimento internacional, o que, como já foi provado pelos 6 unicórnios portugueses, pode trazer muito crescimento económico em Portugal, com investimento estrangeiro e emprego qualificado e bem remunerado.

Por último, toda a ideia de uma maior sustentabilidade ambiental está relacionada com uma maior eficiência nas nossas infraestruturas. Desde a construção de campos de painéis solares e eólicos em pequena e grande escala, o aproveitamento da energia dos oceanos e das ondas, construção de barragens e desenvolvimento de infraestruturas para transportar esta energia para os locais onde é necessário, até às infraestruturas que promovam o uso de carros elétricos e eficiência nos transportes. Todo este tipo de investimentos não só promove a economia como cria muito emprego e sim, pode ser feito por empresas privadas, embora seja necessário uma agilização por parte do Estado.

O fundamento de uma empresa que é mais sustentável é, por si só, mais rentável, dado que não causa danos ao meio ambiente onde trabalha, não gasta recursos que não tem e não desperdiça os que tem. Para além disso, está relacionado com maiores índices de felicidade e produtividade dos seus colaboradores. Por isto mesmo, tenho que afirmar que não é uma escolha entre a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento económico, mas uma escolha de ter um desenvolvimento económico baseado em sustentabilidade ambiental.

Foram só alguns exemplos para demonstrar que a sustentabilidade ambiental pode ajudar ao desenvolvimento económico e não prejudicar. Poderíamos também mencionar o potencial da economia circular ou do turismo verde, no entanto o que necessitamos é de uma estratégia ao nível político mais alto, por parte de todos os partidos, para que possamos aproveitar as oportunidades e não ir, mais uma vez, atrás do que os países desenvolvidos já estão a fazer.

É necessário produzir um plano a médio-longo prazo não só para atingirmos a neutralidade carbónica até 2030, mas para nos desenvolvermos economicamente na área da sustentabilidade ambiental.

 Artigo por: Tiago Freire de Andrade | 14ºC | LynxAI

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